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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Em entrevista ao G1, figurinista brasileiro fala do trabalho nos bastidores de “Harry Potter”


Mauricio Carneiro entrou para a equipe de 'Harry
Potter' em 2004
Em 'Harry Potter e as relíquias da morte - Parte 1', Hermione (Emma Watson) aparece com este vestido vermelho, mostrado nos croquis de Mauricio Carneiro e em cena do filme

Com a proximidade da estreia do último “Harry Potter”, que deve chegar aos cinemas em julho, uma legião de fãs brasileiros já começa a lamentar a falta que o bruxinho fará. Mas um certo fã brasileiro, o designer Mauricio Carneiro, tem mais motivo do que todos os outros para ficar triste: há seis anos, é ele quem desenha as roupas de Harry Potter, Hermione, Ron e outros personagens da série.

“É muito recompensador trabalhar em um projeto desse nível, é uma experiência que vai ficar para o resto da minha vida”, diz Mauricio, em entrevista ao G1 por telefone. Radicado em Londres desde 2001, ele é o ilustrador de vestuário da produção, responsável por desenhar os croquis que orientam a confecção dos figurinos de todo o elenco de “Harry Potter”. “Meu trabalho é levar a magia da história para as roupas e colocar isso no papel”, conta o carioca de 39 anos.

Pode parecer moleza, mas não é bem assim. Só em “Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 1”, cada personagem da trama precisou de cerca de 20 trajes, sendo que, para chegar ao desenho final, são necessárias diversas versões de um mesmo figurino. Em alguns casos, Mauricio chegou a reelaborar 30 vezes o look para chegar à aprovação de todos: diretor, produtor e atores. “É muito trabalho, com muita gente envolvida. Até chegar ao produto final, tem um processo grande de tentativas, tudo tem que estar perfeito, cada detalhe”, afirma.

Visual mais adulto
Entre os desafios de Mauricio para o mais recente longa-metragem da série está dar um visual mais adulto para os três protagonistas. “À medida que eles cresceram, foram mudando de corpo. O Harry [Potter], por exemplo, começou a ter mais músculo, e os figurinos tiveram que valorizar isso. No caso da Hermione, houve uma passagem de menina para mulher, e esse desabrochar devia estar presente nas roupas e nas cores”, observa o designer. Além disso, os figurinos precisavam refletir o clima do último episódio, mais sombrio que os anteriores. “Nesse ultimo filme o Harry Potter passa a maioria do tempo fugindo, por isso tivemos que dar a impressão de que ele está com a mesma roupa o tempo inteiro. São as mesmas peças que vão sofrendo os efeitos da vivência e ganhando inúmeras versões”, completa.Para criar os looks do universo de Potter, Mauricio recorre à combinação de elementos modernos e medievais, que são as suas principais referências. “Por ser uma fantasia, existe uma certa liberdade criativa; vou brincando com referências da Idade Média e coisas dos anos 1940 e 50”, revela o designer. “Como os bruxos vivem mais, tenho que mostrar esse aspecto milenar dos personagens, com roupas que não estão presas a um determinado momento histórico.”

O início
Antes começar a trabalhar nos bastidores de “Harry Potter”, em 2004, Mauricio já era fã dos livros de J.K. Rowling. “Sempre fui fascinado por magia, por esse universo paralelo”, diz o designer, que entrou para a equipe no quarto filme da franquia, “Harry Potter e o cálice de fogo”. Morando em Londres havia cerca de três anos, Mauricio soube de uma vaga no time técnico e logo procurou a produção para mostrar seu portfólio. “Foi um pouco de sorte e um pouco de talento”, conta o figurinista formado pela UniRio, que àquela altura já tinha trabalhado em produções teatrais da capital inglesa e em minisséries da TV Globo, como “O auto da compadecida”, “A muralha” e “Caramuru”.

Agora, com o último longa de “Harry Potter” em fase de finalização, Mauricio tem se dedicado a outros projetos. No cinema, ele atualmente integra a equipe da adaptação dos quadrinhos “Capitão América”, estrelada por Chris Evans, que deve chegar aos cinemas em julho de 2011. No filme, ele é responsável pelo envelhecimento do figurino, combinando técnicas de tingimento, tratamento e pintura de tecidos para obter o visual próprio para cada cena.

Já no teatro, ele investe em um projeto mais autoral, em parceria com Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”. Intitulado “We-waste”, o espetáculo conta a história de pessoas que moram em um lixão e traz cenário e figurino feitos de material reciclado. “Acho que já tenho crédito para ter um projeto mais pessoal, com a minha cara. Para alguém que chegou a Londres sem um contato sequer, já realizei muitas coisas bacanas”, diz.

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